Depois do barulho nas redes, o governo nega ter mandado mudar o nome do partido de Venâncio Mondlane. Só que... o tal “despacho” existe.
Ontem, quarta-feira (11 de junho), o debate político nas redes sociais ferveu. Um suposto despacho do Ministério da Justiça, atribuído ao ministro Mateus Saíze, dava conta de que o nome do partido de Venâncio Mondlane — ANAMALALA — teria de ser alterado. A razão? O nome está em língua nacional e, segundo o tal documento, isso “promoveria divisionismo e atentaria contra a unidade nacional”.
O caso gerou indignação nacional, com várias figuras públicas e cidadãos comuns questionando desde quando falar uma língua nacional passou a ser ilegal num país que tanto se orgulha da sua diversidade cultural.
🙃 E agora? O ministro diz que não é bem assim...
Diante da confusão (e da viralização do documento), a imprensa decidiu fazer o que devia ser feito desde o início: ouvir o ministro. Em declarações públicas, Mateus Saíze garantiu que o processo de legalização do partido ANAMALALA decorre normalmente e que, até agora, nenhuma decisão oficial foi tomada.
“Não recebi nenhuma informação que indique que o processo tenha sido chumbado”, declarou o ministro com tranquilidade olímpica — como se o tal documento, com timbre oficial e tudo, nunca tivesse existido.
Mais ainda: confirmou que representantes do partido estiveram com ele no dia 9 de junho, para se informarem sobre o ponto de situação. Tudo dentro da legalidade. Tudo sereno. Tudo normal.
📄 Mas e o despacho?
Aqui começa o teatro. Porque o tal despacho do Ministério da Justiça circulou — e muito. Não é um post anónimo, nem boato do WhatsApp. É um documento com carimbo, data, timbre e argumento jurídico, que diz claramente que ANAMALALA não pode ser nome de partido por estar em língua nacional.
Então… como é que não houve decisão?
🧩 Transparência seletiva?
O episódio levanta sérias questões sobre a transparência do processo de legalização de partidos em Moçambique. Se o despacho foi uma “minuta interna”, por que ganhou circulação pública? E se não tem valor legal, por que foi redigido em linguagem jurídica, assinado e partilhado com interlocutores?
Mais do que isso, por que o governo evita reconhecer publicamente a existência do documento — ou, ao menos, explicar seu contexto?
🎭 Entre recuos e negações
Na política moçambicana, desmentidos tardios e bem calculados já são quase rotina. Neste caso, o ministro afirma que nada foi decidido. No entanto, o público viu um documento circular que diz exatamente o contrário.
Resta agora saber se o governo está a ganhar tempo, se foi pego de surpresa pela repercussão negativa, ou se haverá um novo despacho — desta vez “oficial de verdade” — enterrando o anterior com discrição burocrática.
📌 Conclusão
Entre “não houve chumbo” e o “documento não existe”, a verdade talvez esteja no meio — ou escondida debaixo da mesa. O que parece certo é que o partido ANAMALALA continua no jogo, mas a confiança no processo... essa sim, parece ter sido chumbada.
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