Delegação de 14 pessoas das Linhas Aéreas de Moçambique viajou à Europa alegando ir inspecionar aviões. Mas aeronaves não estavam disponíveis, e o passeio começou num resort de luxo no meio da reserva especial de Maputo.
Por Xavier Banze | 02-05-2025
O que começou como uma alegada missão técnica de inspeção de aeronaves, rapidamente se transformou num escândalo que levanta sérias dúvidas sobre a transparência, ética e prioridades da administração das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM).
Uma comitiva de 14 membros da empresa estatal viajou à Europa com o pretexto de avaliar aviões e explorar parcerias com o Lion Aviation Group. No entanto, o que se revelou foram gastos injustificados, falta de resultados concretos e até uma estadia em resort de luxo, financiada, ao que tudo indica, com recursos públicos.
O plano original: inspecionar aviões e discutir parcerias
A viagem estava prevista para a semana de 24 de março de 2025. A LAM justificava a missão como estratégica: discutir colaborações com o Lion Aviation Group, incluindo compra de aeronaves, capacitação de pessoal, manutenção e gestão de frotas.
Em carta enviada à embaixada europeia, a LAM destacava a intenção de visitar hangares no Aeroporto de Schiphol, em Amesterdão.
A viagem foi confirmada, mas os aviões… não estavam lá
Correspondência entre as duas empresas indica que, até à data da viagem, os aviões ainda não estavam nos hangares. Apesar disso, a delegação manteve o plano e embarcou para a Europa no dia 26 de março, regressando apenas em 18 de abril de 2025. Nenhum relatório foi apresentado à sociedade.
Antes da Europa, o luxo no Milibangalala
A comitiva passou quatro dias no resort Milibangalala, uma instalação de luxo dentro da Reserva Especial de Maputo. Com diárias que podem ultrapassar os 30 mil meticais por pessoa, a estadia gerou revolta entre cidadãos e analistas.
Quem são os nomes envolvidos?
Os seguintes nomes constam da lista que solicitou vistos para a missão europeia:
- Amisse Momade Amisse
- Isabel Samuel Chissulete
- Isabel Salésio Tobela (teria sido retirada à última hora)
- Leonel Estevão Uamusse
- Líria Agostinho Dzimba
- Prosper Ntaganda – Chefe do Departamento de Manutenção
- Quinita Rosa Uqueio – Presidente do júri e do Gabinete de Estudos e Projetos
- Artur Batista Gonçalves
- José Francisco Sabe
- Alberto Américo Bene
- Alegria Salomão
- Christopher Frederick Lewcock
- Gonçalves Chimele Zavele Júnior
- Norton Armando Nhantumbo
E a LAM, o que diz?
Até ao momento, não houve uma posição oficial clara da LAM. Nenhum comunicado à imprensa foi emitido explicando os resultados da missão, os gastos realizados ou a necessidade do retiro de luxo.
Opinião pública e a crise da aviação nacional
A empresa enfrenta atrasos salariais, voos cancelados, greves e dificuldades financeiras, e depende do Estado. O episódio, portanto, alimenta críticas sobre má gestão e uso abusivo de recursos públicos.
Conclusão: o que fica por esclarecer?
- Por que a delegação viajou mesmo sabendo que os aviões não estavam disponíveis?
- Quem pagou pelo retiro no Milibangalala?
- Quais foram os resultados concretos da viagem?
- Quanto foi gasto ao todo?
- Haverá responsabilização?
Enquanto essas perguntas continuam sem resposta, cresce a pressão por investigações independentes e reformas profundas na gestão das empresas públicas moçambicanas.
Este artigo foi escrito por Xavir Banze para o blog Moçambique Interativo. Para republicação, favor solicitar autorização.



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