Na manhã desta segunda-feira, o Governo de Moçambique divulgou projeções económicas que apontam para um aumento do índice de preços entre 4,5% e 5,5% no período entre 2025 e 2027. A previsão, apresentada como uma expectativa de inflação moderada, levanta sérias preocupações sobre o impacto direto que terá no custo de vida da população e no já preocupante nível de desemprego no país.
O que está previsto para os próximos anos?
Segundo informações tornadas públicas pelo Executivo, a inflação deverá manter-se dentro deste intervalo nos próximos três anos. Embora tecnicamente controlada, esta previsão contrasta com a realidade económica enfrentada por muitos moçambicanos, marcada por salários baixos, alto desemprego juvenil e precariedade generalizada.
Com a subida dos preços, bens essenciais como alimentos, transporte e habitação poderão tornar-se ainda menos acessíveis, penalizando sobretudo as famílias de baixa renda. A pressão inflacionária deverá afetar também pequenos negócios, agravando as dificuldades do setor informal, onde grande parte da população busca sustento.
“Estamos a viver no limite”
Vários cidadãos ouvidos expressam preocupação com as implicações desta projeção. “Estamos a viver no limite. Se os preços continuarem a subir, não sei como vamos aguentar. Já agora é difícil”, lamenta uma comerciante informal no centro de Maputo, que preferiu não se identificar.
Outros apontam a ausência de políticas públicas eficazes para enfrentar este tipo de cenário. “O Governo prevê, mas não apresenta soluções. O desemprego está a aumentar e os jovens estão sem futuro. Fica tudo no papel”, critica um recém-licenciado desempregado da cidade da Beira.
O que dizem as autoridades?
Até ao momento, o Governo ainda não detalhou que medidas pretende tomar para conter os efeitos do aumento do custo de vida. Não há referências claras sobre subsídios, apoios sociais ou incentivos à criação de emprego para mitigar a pressão económica prevista.
Fontes ligadas ao Ministério da Economia e Finanças limitam-se a garantir que “o Governo está atento à evolução da conjuntura” e que serão tomadas “medidas adequadas caso o cenário se agrave”. No entanto, estas garantias têm sido repetidas em anos anteriores, sem grandes resultados práticos.
Inflação e desemprego: um problema crónico?
O novo alerta económico surge num contexto em que Moçambique já enfrenta múltiplas crises: desde os impactos da pandemia à guerra na Ucrânia e os choques climáticos. A recuperação económica tem sido lenta e desigual, e a inflação apenas vem agravar um quadro já frágil.
Analistas apontam que, sem reformas estruturais e investimento sério em emprego e proteção social, a inflação poderá tornar-se mais do que uma tendência cíclica — poderá cristalizar um estado permanente de exclusão económica.
Conclusão
A previsão de aumento de preços entre 2025 e 2027 não é apenas um dado técnico: é um sinal de alarme para milhões de moçambicanos que já lutam diariamente para sobreviver. A falta de respostas claras por parte do Governo apenas reforça a sensação de abandono entre os cidadãos.
Mais do que previsões, o país precisa de ações concretas, políticas públicas eficazes e um compromisso real com a melhoria das condições de vida. Caso contrário, Moçambique continuará preso num ciclo de pobreza e instabilidade, onde os mais frágeis pagam sempre o preço mais alto.

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