A partir desta quinta-feira (17 de abril), os profissionais de saúde em Moçambique iniciam uma nova fase de protesto: passam a cumprir apenas oito horas diárias — das 7h30 às 15h30 — e suspendem o atendimento hospitalar aos fins de semana e feriados. A decisão faz parte daquilo que a Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUM) chama de primeira fase da greve nacional.
Por que os profissionais de saúde estão em greve?
Segundo Anselmo Muchave, presidente da APSUM, o principal motivo da greve é a falta de pagamento das horas extras, dos subsídios de turno e até mesmo o desrespeito pelo descanso semanal previsto na legislação moçambicana.
“A suspensão do trabalho em regime de turnos visa facilitar ao Governo o cálculo e a busca de orçamento para os devidos pagamentos”, explicou Muchave, durante uma conferência de imprensa realizada nesta segunda-feira.
Além disso, a associação recomenda que, na ausência de materiais médicos, os profissionais não recorram a alternativas improvisadas e aguardem pelo provimento estatal. A decisão, embora drástica, busca pressionar o Governo a assumir responsabilidades concretas com a classe.
Governo acusado de má-fé nas negociações
A postura do Governo liderado por Daniel Chapo tem sido duramente criticada pela APSUM. Segundo Muchave, as negociações têm sido marcadas por desonestidade e falta de seriedade, o que agrava ainda mais a insatisfação dos profissionais.
“Este Governo não está a ser sério. Ao contrário do passado, não temos tido respostas que não passem pela desonestidade que temos observado desde o início das negociações”, denunciou.
A associação não avançou um prazo para o fim da greve, deixando claro que tudo dependerá da resposta do Governo às reivindicações apresentadas.
Histórico de greves no setor da saúde em Moçambique
Esta não é a primeira vez que os profissionais de saúde moçambicanos recorrem à greve para exigir melhores condições. Em 2022, houve uma paralisação parcial em vários hospitais do país, motivada pela falta de pagamento regular de salários e infraestruturas precárias. Já em 2023, outra onda de protestos destacou problemas como a sobrecarga de trabalho e a escassez de medicamentos essenciais.
Apesar das promessas feitas ao longo dos anos, muitos acordos firmados entre sindicatos e o Governo ficaram por cumprir, o que contribui para o clima de desconfiança atual.
E o que diz o Governo?
Até o momento, não houve um pronunciamento oficial do Governo em resposta à nova fase da greve anunciada pela APSUM. No entanto, fontes internas indicam que o Ministério da Saúde tem mantido reuniões internas para avaliar o impacto da paralisação e possíveis formas de mitigação, sobretudo nos grandes hospitais urbanos.
Impacto nos serviços de saúde
Com a suspensão dos atendimentos fora do horário padrão e nos fins de semana, espera-se um forte impacto nas urgências hospitalares, sobretudo em áreas rurais onde os profissionais disponíveis já são escassos. Especialistas alertam para o risco de agravamento de casos clínicos que, sem atendimento imediato, podem evoluir para situações de emergência.
Conclusão
A nova greve dos profissionais de saúde em Moçambique é um reflexo direto de anos de frustração e promessas não cumpridas. Enquanto os trabalhadores exigem o que lhes é legalmente devido, a população corre o risco de ver os serviços de saúde ainda mais comprometidos.
Com o futuro das negociações em aberto, a questão que fica é: quando — e como — o Governo vai responder?

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