Iniciou-se esta segunda-feira, em Nova Iorque, o julgamento criminal de Sean “Diddy” Combs, com a seleção do júri. O produtor musical, empresário e artista multimilionário é acusado de conspiração, extorsão, tráfico sexual e transporte de pessoas para fins de prostituição. Caso venha a ser considerado culpado, Combs poderá enfrentar prisão perpétua.
Detido desde setembro de 2024, Diddy, de 55 anos, está a ser julgado num tribunal federal, num dos casos de maior repercussão envolvendo figuras públicas do mundo da música desde o escândalo de R. Kelly. Para além do processo criminal, Combs enfrenta mais de 70 processos civis movidos por homens e mulheres que alegam ter sido drogados, abusados sexualmente ou coagidos ao silêncio, ao longo de décadas, enquanto o artista consolidava a sua fama e poder na indústria.
Rejeição de acordo judicial
Durante uma audiência preliminar realizada na quinta-feira anterior ao início do julgamento, Combs comunicou ao juiz que recusou um acordo judicial com a acusação. Os detalhes dessa proposta não foram revelados, mas fontes próximas ao processo sugerem que a recusa poderá estar relacionada com a exigência de uma confissão pública ou cooperação com investigações paralelas.
Acusações com um padrão inquietante
Muitos dos testemunhos civis descrevem um padrão de comportamento envolvendo aliciamento de jovens com promessas de fama, festas privadas onde drogas eram administradas sem consentimento e episódios de violência sexual. Em pelo menos uma dúzia de casos, as vítimas alegam ter sido filmadas sem consentimento em atos íntimos, o que, segundo os procuradores, fazia parte de um sistema de chantagem e controlo psicológico montado por Diddy e seus colaboradores próximos.
As acusações também envolvem antigos funcionários da Bad Boy Records — a editora fundada por Combs — e membros da sua equipa de segurança, que teriam participado ativamente na logística de recrutamento, vigilância e intimidação das vítimas.
Quem são as principais vítimas envolvidas?
Cassie Ventura
Um dos nomes mais conhecidos entre os que acusam Sean Combs é Cassie Ventura, cantora e modelo que manteve uma relação pública com Diddy por mais de uma década. Em 2023, Cassie entrou com um processo civil acusando Combs de violência física, estupro, vigilância constante e manipulação psicológica ao longo de anos. O caso foi rapidamente resolvido com um acordo extrajudicial, mas abriu a porta para que outras vítimas ganhassem coragem para se manifestar.
"Jane Doe #17" (Nome fictício)
Uma das vítimas mais citadas no processo criminal é identificada nos autos como Jane Doe #17, uma ex-dançarina de apoio que afirma ter sido drogada e estuprada numa festa privada organizada por Combs em 2012. Ela alega que foi mantida em cárcere privado por dois dias e ameaçada para não revelar o ocorrido. A sua história é corroborada por registros médicos e mensagens de texto trocadas com amigos na época.
"John Doe #4"
Também há homens entre os acusadores. Um deles, identificado como John Doe #4, diz ter sido recrutado como assistente pessoal de Diddy em 2007. Ele alega ter sofrido abuso físico e sexual, além de ter sido forçado a recrutar jovens para festas privadas onde se praticavam atos de humilhação e violência sexual.
Tiana Blake
Tiana Blake, ex-funcionária administrativa da Bad Boy Records, afirma ter sido despedida após se recusar a silenciar uma vítima menor de idade. Ela é uma das principais testemunhas de acusação e terá um papel-chave no tribunal, fornecendo registros internos e e-mails que poderão comprovar um alegado “esquema estruturado” de exploração sexual.
De ícone cultural a acusado federal
Sean Combs é um dos nomes mais reconhecidos da cultura pop americana. Lançou artistas como The Notorious B.I.G., Mase, e Faith Evans, e ajudou a definir o som do hip-hop comercial nas décadas de 1990 e 2000. Ganhou vários prémios Grammy, lançou marcas de roupa, bebidas alcoólicas e acumulou uma fortuna estimada em mais de mil milhões de dólares.
Conhecido por uma série de pseudónimos artísticos — Puffy, Puff Daddy, P. Diddy, Love e Brother Love — Diddy foi durante décadas símbolo de sucesso, ascensão e poder negro nos EUA. A sua imagem pública era cuidadosamente construída em torno do glamour, filantropia e empreendedorismo.
No entanto, as denúncias mais recentes vieram lançar uma sombra sobre esse legado. O seu nome começou a surgir com mais frequência em documentos judiciais e reportagens investigativas desde o movimento #MeToo, que expôs figuras influentes em várias indústrias por décadas de abusos.
Impacto para a indústria musical
O caso poderá provocar um novo “terramoto” na indústria do entretenimento, semelhante ao impacto de Harvey Weinstein em Hollywood. Com dezenas de acusações e testemunhos detalhados, e o envolvimento de funcionários, agentes e até elementos da polícia, o processo contra Diddy poderá expor uma cultura de impunidade profundamente enraizada no mundo da música.

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