PRM só reconhece que Carlos Zandamela era um alto quadro da polícia dias após negar saber quem era a vítima. A família já sabia — mas, pelos vistos, a corporação não.
Quatro dias depois da execução brutal de Carlos Rafael Zandamela, com mais de 40 tiros em pleno bairro de Nkobe, a Polícia da República de Moçambique (PRM) resolveu, enfim, reconhecer aquilo que toda a comunidade — e sobretudo a família — já sabia desde o primeiro minuto: Zandamela era oficial sénior da corporação, ocupando o cargo de chefe da Repartição de Reconhecimento da Unidade de Intervenção Rápida (UIR).
A confirmação chegou com atraso — e algum embaraço — por meio de uma nota do Comando-Geral da PRM recebida este domingo pela redacção do Moçambique Interativo.
No comunicado, a polícia faz questão de “repudiar” o que classifica como informações falsas, sugerindo que nunca teria negado a ligação da vítima à corporação. Segundo a nota, o porta-voz da PRM na Província de Maputo apenas afirmou, na altura, que a identidade da vítima ainda estava a ser verificada.
Curioso, para não dizer trágico, é que a corporação só conseguiu “verificar” a identidade de um seu próprio chefe quatro dias depois do crime — e apenas após a indignação pública e o luto da família se tornarem incontornáveis. Como se fosse um nome qualquer no meio de um ficheiro empoeirado, e não um quadro sénior com mais de duas décadas de serviço.
A ironia não passa despercebida: a PRM parecia ser a única instituição no país a não saber quem era Carlos Zandamela — mesmo com ficha interna, salário pago pelo Estado e um cargo de responsabilidade dentro da unidade de elite.
A família, por sua vez, sempre foi clara: tratava-se de um “bom homem, respeitado, com 20 anos na corporação”. Mas, para a polícia, só depois de muita pressão e de dias de silêncio constrangedor — típico de quem tenta ganhar tempo — é que veio a coragem de admitir o óbvio.
Agora, com a confirmação tardia, a PRM tenta reposicionar-se como defensora da verdade e anuncia que as investigações continuam. A sociedade, no entanto, exige mais do que comunicados de última hora: exige transparência, responsabilização e respostas claras sobre quem matou Zandamela — e por quê.
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