Maputo — A mais recente aeronave incorporada pela LAM (Linhas Aéreas de Moçambique), apresentada como um passo importante no reforço da frota da companhia, está agora no centro de uma nova polémica: técnicos identificaram fissuras na estrutura do avião, levantando sérias preocupações sobre a sua segurança e sobre o processo de contratação de aeronaves pela transportadora estatal.
O avião em causa, um Boeing 737-500 alugado, aterrou esta semana no Aeroporto Internacional de Maputo e foi recebido oficialmente por representantes da empresa, autoridades do setor e membros do governo. A aeronave passou a ser o quarto aparelho operacional da LAM — todos arrendados a terceiros, uma realidade que já vinha gerando críticas à dependência externa da companhia.
No entanto, a recepção festiva deu lugar à inquietação pouco tempo depois. Segundo fontes ligadas ao setor da aviação civil, o avião apresenta danos estruturais identificados durante verificações técnicas de rotina, o que poderá comprometer a sua entrada imediata em operação.
Falta de rigor técnico ou pressa política?
A revelação de que a aeronave chegou ao país com fissuras visíveis levanta dúvidas sobre a rastreabilidade e inspecção técnica no processo de leasing, bem como sobre as condições impostas nos contratos de aluguer. Até ao momento, a LAM não se pronunciou oficialmente sobre a gravidade dos danos ou as medidas corretivas previstas.
Especialistas ouvidos por este jornal afirmam que, embora o leasing de aeronaves seja uma prática comum na indústria, é fundamental garantir rigor técnico absoluto antes de integrar qualquer avião à frota. "Receber um avião com falhas estruturais é inaceitável, sobretudo tratando-se de uma companhia nacional com responsabilidade pública", comentou um engenheiro aeronáutico que pediu anonimato.
A crise vai além da frota
O caso ocorre num momento delicado para a companhia, que opera atualmente com uma frota mínima e enfrenta sérias dificuldades operacionais, financeiras e reputacionais. A LAM tem sido alvo de críticas por atrasos, cancelamentos frequentes e gestão ineficiente, ao mesmo tempo em que tenta reabilitar sua imagem com promessas de expansão e modernização.
A aposta em aeronaves alugadas, muitas delas com décadas de uso, tem sido vista por alguns analistas como uma solução de curto prazo que não resolve os problemas estruturais da companhia.
O silêncio pesa e a confiança vacila
Até ao fecho desta edição, nenhuma explicação formal foi dada ao público sobre a condição da aeronave ou o impacto que isso terá nos voos programados. O incidente lança uma nova sombra sobre a transparência da gestão da LAM e reacende o debate sobre a segurança do transporte aéreo em Moçambique.
Com o setor da aviação a depender da confiança do público, a introdução de um avião com problemas estruturais pode representar mais do que uma falha técnica: é uma fissura na própria credibilidade da companhia.
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